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| Uma frase que fez Portugal revisitar o passado autoritário. |
André Ventura clama por um regime autoritário: “Só três Salazares poderiam salvar Portugal”
Lisboa, Portugal — Uma declaração recente de André Ventura, líder do partido Chega, voltou a agitar o cenário político nacional. Em tom de nostalgia autoritária, Ventura afirmou que “só três Salazares poderiam salvar Portugal”, provocando indignação entre adversários políticos e reacendendo o debate sobre os limites da democracia no país.
O comentário, feito durante uma entrevista televisiva, foi recebido com surpresa e preocupação. Muitos interpretaram as palavras como um apelo perigoso à concentração de poder, enquanto os apoiantes do líder do Chega afirmam tratar-se apenas de uma “figura de estilo” para criticar a falta de autoridade e de ordem na política portuguesa atual.
Uma frase que reacende memórias sombrias
A referência a António de Oliveira Salazar — ditador que governou Portugal entre 1932 e 1968 — carrega um peso histórico e emocional que o país ainda não esqueceu. A evocação de um regime autoritário num contexto democrático desperta inquietações profundas, especialmente entre aqueles que viveram o Estado Novo e conhecem as suas restrições à liberdade de expressão, à imprensa e aos direitos civis.
Para os historiadores, o uso da imagem de Salazar como símbolo de “salvação” revela não apenas a retórica provocadora de Ventura, mas também a persistência de uma nostalgia autoritária em parte da sociedade portuguesa. Segundo o professor Rui Tavares, historiador e eurodeputado, “esta é uma tentativa de capitalizar o descontentamento social, projetando-o sobre uma figura que representa disciplina, mas também repressão”.
O contexto político e o avanço do populismo
O discurso de Ventura surge num momento em que o Chega consolida o seu espaço como terceira força política em Portugal. Com um discurso centrado na segurança, imigração e moralidade pública, o partido tem atraído eleitores desiludidos com os partidos tradicionais e com o que consideram ser a “inércia” do sistema democrático.
Contudo, especialistas alertam que esse tipo de retórica pode normalizar ideias antidemocráticas e minar a confiança nas instituições. “Quando um líder político evoca ditadores como exemplo, ainda que simbolicamente, está a testar os limites do discurso democrático”, explica Helena Matos, analista política. “É um jogo perigoso que pode corroer a cultura democrática a longo prazo.”
Reações no Parlamento e nas redes sociais
As reações à frase de Ventura foram imediatas. Deputados de vários partidos condenaram a declaração, classificando-a como “inaceitável” e “um insulto à memória das vítimas do Estado Novo”. O PS e o Bloco de Esquerda exigiram um pedido de desculpas público, enquanto o PSD optou por não comentar diretamente, afirmando apenas que “a democracia portuguesa é forte e não teme nostalgias autoritárias”.
Nas redes sociais, a polémica explodiu. Hashtags como #SalazarNuncaMais e #ChegaDeExtremos tornaram-se virais, com milhares de comentários a criticar o líder do Chega. Em contrapartida, apoiantes de Ventura usaram o episódio para reforçar a narrativa de que “a verdade dói” e que “Portugal precisa de liderança firme”.
O peso das palavras e o impacto na opinião pública
Em política, as palavras têm poder — e, neste caso, as de André Ventura parecem ter sido cuidadosamente escolhidas para provocar. A frase “só três Salazares” funciona como um soundbite que capta atenção mediática e reforça a identidade combativa do líder populista, colocando-o novamente no centro do debate nacional.
Para o sociólogo António Barreto, este tipo de discurso “não é inocente nem improvisado”. Segundo ele, “trata-se de uma estratégia de comunicação que visa dividir o eleitorado entre os que temem o caos e os que acreditam que a democracia está fraca demais para impor ordem”.
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Democracia em teste: o perigo da nostalgia
A invocação de figuras autoritárias como solução política é um fenómeno que não se limita a Portugal. Em vários países europeus, líderes populistas exploram o descontentamento económico e social para propor “modelos fortes” de governo, muitas vezes à custa das liberdades civis.
O discurso de Ventura é, portanto, parte de uma tendência global que questiona o equilíbrio entre liberdade e autoridade. No entanto, especialistas alertam que “recorrer à nostalgia ditatorial é um sintoma de fraqueza democrática, não uma solução”, como sublinha Maria João Marques, professora de Ciência Política na Universidade de Coimbra.
O que pensa o eleitor português?
Um estudo recente do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra revelou que cerca de 17% dos portugueses acreditam que “um governo forte, sem interferência parlamentar”, seria mais eficiente. Embora minoritária, esta percentagem representa um alerta para a fragilidade da confiança pública na política tradicional.
Entre os jovens, o fenómeno é ainda mais preocupante: a maioria demonstra desconhecimento sobre o regime de Salazar e tende a associar “autoridade” apenas a “ordem e disciplina”, sem perceber o custo social e humano desse tipo de governo.
Conclusão: a memória como ferramenta de resistência
As palavras de André Ventura reacenderam uma ferida histórica que Portugal ainda tenta compreender e superar. Ao mesmo tempo, lembram-nos de que a memória coletiva é essencial para proteger a democracia das tentações autoritárias.
Num momento em que as redes sociais amplificam discursos polarizadores, é fundamental investir em educação cívica, cultura democrática e informação de qualidade. A liberdade, conquistada com esforço em 1974, não é um dado adquirido — é um património que exige vigilância constante.
FAQ — Perguntas frequentes sobre o caso André Ventura e o autoritarismo
O que exatamente André Ventura disse?
Durante uma entrevista, André Ventura declarou que “só três Salazares poderiam salvar Portugal”, referindo-se a António de Oliveira Salazar, antigo ditador português.
O Chega defende um regime autoritário?
O partido oficialmente declara-se defensor da democracia parlamentar, embora muitas das suas posições sejam consideradas autoritárias por analistas políticos.
Porque é que a frase causou tanta polémica?
Porque evoca uma figura histórica associada à repressão e à censura, sugerindo uma nostalgia por um período em que as liberdades civis eram limitadas.
Há precedentes de líderes europeus a fazer declarações semelhantes?
Sim. Em vários países europeus, políticos populistas têm feito alusões a regimes fortes ou líderes autoritários do passado como forma de capitalizar o descontentamento popular.
Qual é o impacto deste tipo de discurso na sociedade?
Declarações como esta dividem a opinião pública, polarizam o debate e podem enfraquecer o respeito pelas instituições democráticas.
Reportagem original do Portal Mundo Time — conteúdo desenvolvido com base em declarações públicas, análises académicas e dados de fontes verificadas.


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