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À medida que as balas ecoam, os líderes se enfrentam: a África do Sul e Ruanda entram em uma disputa acirrada no campo de batalha e na diplomacia |
O leste da República Democrática do Congo (RDC), rico em minerais, enfrenta conflitos há mais de 30 anos, desde o genocídio de Ruanda em 1994. Grupos armados disputam poder e controle sobre a vasta riqueza mineral do país, afetando a estabilidade regional.
As consequências são devastadoras. Na década de 1990, dois grandes conflitos, conhecidos como as Guerras Mundiais da África, resultaram na morte de milhões e impactaram países vizinhos.
Situação Atual
Recentemente, o grupo rebelde M23 avançou rapidamente no leste da RDC, capturando cidades estratégicas. O ponto culminante foi a tomada de Goma, uma cidade com mais de um milhão de habitantes e um importante centro comercial e de transporte, localizada à beira do Lago Kivu.
A conquista de Goma gerou uma crise humanitária alarmante: escassez de alimentos e água, hospitais superlotados e corpos nas ruas. O M23 também assumiu o controle de Bukavu, capital da província de Kivu do Sul, além de outras localidades como Masisi, Rutshuru e Katale.
Embora os rebeldes tenham ameaçado avançar até a capital Kinshasa, a distância de 2.600 km torna essa possibilidade improvável. A luta pelo controle dos recursos continua a moldar o destino da RDC.
Quem é o M23?
O M23 é um grupo rebelde liderado por tutsis étnicos, que afirma ter se armado para defender os direitos do seu grupo minoritário. O nome do grupo vem de um acordo de paz assinado em 23 de março de 2009, que segundo eles, não foi respeitado.
Desde sua formação em 2012, o M23 ganhou rapidamente território e tomou Goma, atraindo condenações internacionais por crimes de guerra e violações de direitos humanos. Após ser forçado a se retirar de Goma e sofrer derrotas significativas contra o exército congolês e uma força da ONU, os combatentes se integraram ao exército em troca da promessa de proteção aos tutsis. Contudo, em 2021, o grupo retomou as armas, alegando que essas promessas foram quebradas.
Ruanda está envolvida nos conflitos?
Sultani Makenga, líder do M23, é um tutsi congolês que já lutou no exército ruandês. Embora Ruanda tenha negado apoio ao M23, especialistas da ONU desde 2012 apontam que o país fornece armas e suporte logístico aos rebeldes. A RD Congo, junto com os EUA e a França, também identificaram Ruanda como apoiadora do M23; um relatório recente indicou que até 4.000 tropas ruandesas estavam lutando ao lado do grupo.
A porta-voz do governo ruandês, Yolande Makolo, afirmou que as tropas foram mobilizadas na fronteira para evitar a expansão do conflito. Ruanda se defende dizendo que é usada como bode expiatório e culpa as autoridades congolesas pela falta de diálogo com o M23.
Um processo de paz mediado por Angola resultou em um acordo de cessar-fogo no ano passado, mas esse acordo rapidamente fracassou e os combates recomeçaram.
Qual é a conexão com Ruanda?
Os conflitos atuais têm raízes profundas no genocídio de 1994 em Ruanda, que resultou na morte de cerca de 800.000 pessoas, principalmente da comunidade tutsi, por extremistas hutus. O genocídio foi encerrado pela ascensão de rebeldes tutsis liderados por Paul Kagame, que atualmente é o presidente do país.
Após o genocídio, cerca de um milhão de hutus fugiram para a República Democrática do Congo (RDC), temendo represálias. Essa migração exacerbou tensões étnicas, especialmente para os banyamulenge, um grupo tutsi marginalizado no leste da RDC.
Ruanda invadiu a RDC em duas ocasiões, alegando perseguir os responsáveis pelo genocídio e colaborando com grupos armados locais. Após três décadas de conflito, as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), compostas por alguns dos perpetradores do genocídio, ainda operam no leste da RDC. Ruanda classifica a FDLR como uma "milícia genocida", afirmando que sua presença representa uma ameaça à segurança nacional. O governo ruandês acusa as autoridades congolesas de colaborar com a FDLR, o que a RDC nega.
A presença ruandesa na RDC provavelmente continuará enquanto a FDLR for vista como uma ameaça às comunidades tutsis e à própria Ruanda.
E quanto à riqueza mineral do Congo?
A República Democrática do Congo e diversos relatórios da ONU acusam Ruanda de explorar o conflito para saquear minerais valiosos como ouro e coltan, essenciais para a indústria eletrônica. Nos últimos anos, o grupo M23 tomou áreas ricas em mineração e um relatório recente da ONU revelou que cerca de 120 toneladas de coltan estão sendo enviadas mensalmente para Ruanda pelo M23.
Além disso, houve um aumento significativo nas exportações minerais de Ruanda, com muitos desses recursos oriundos da RDC. Ruanda nega consistentemente essas acusações de exploração mineral.
O que estão fazendo as Forças de Paz da ONU?
Desde 1999, a missão de paz da ONU, conhecida como Monusco, atua na República Democrática do Congo com mais de 10.000 soldados. No entanto, apenas a Força de Intervenção tem autorização para realizar operações ofensivas contra grupos armados, sendo responsável pela vitória sobre o M23 em 2013.
Apesar dos esforços, a Monusco enfrenta críticas contundentes da população local, que a considera ineficaz. O presidente Félix Tshisekedi chegou a solicitar a retirada da missão até o final do ano passado, mas essa partida foi adiada e a missão foi prorrogada por mais um ano em dezembro.
Além disso, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), composta por 16 países, também enviou tropas para o leste do país, mas sem sucesso em conter os rebeldes. A situação se agravou com a morte de soldados sul-africanos em confrontos com o M23, levando o presidente Cyril Ramaphosa a advertir Ruanda sobre possíveis ataques às suas tropas. Em resposta, Paul Kagame, presidente de Ruanda, acusou a África do Sul de estar envolvida em ações beligerantes.
Recentemente, também houve relatos de que um soldado uruguaio da Monusco perdeu a vida durante as operações.
A tensão na região aumentou quando a África do Sul reportou a morte de 14 de seus soldados em intensos confrontos com o grupo rebelde M23. Além disso, tropas de Malawi e Tanzânia também perderam vidas no embate.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, não hesitou em enviar um aviso claro ao governo de Ruanda: novos ataques às suas forças seriam interpretados como uma "declaração de guerra". Essa declaração acirrou ainda mais os ânimos.
Em resposta, o presidente ruandense, Paul Kagame, contra-atacou, acusando a África do Sul de se integrar a uma "força beligerante" que participa ativamente de "operações de combate ofensivas". A escalada das hostilidades entre os dois países promete trazer repercussões significativas para a estabilidade da região.
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