Impacto das Tarifas de Trump nas Relações Comerciais entre EUA e África

Tarifas de Trump: A Sentença de Morte para o Acordo Comercial EUA-África?

Tarifas de Trump: A Sentença de Morte para o Acordo Comercial EUA-África?

Impacto Devastador no Setor Têxtil do Lesoto

Na última quinta-feira, o setor têxtil do Lesoto enfrentou um dia "terrível" e "devastador". A notícia de que as exportações do país para os EUA seriam impactadas por uma tarifa de importação de 50% deixou os envolvidos em estado de angústia. Teboho Kobeli, fundador da Afri-Expo Textiles, destacou a dificuldade em manter sua operação, que emprega 2.000 pessoas, diante da necessidade de aumentar os preços dos produtos.

Agoa: Uma Legislação Crucial

O Lesoto tornou-se um símbolo da Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (Agoa), uma legislação dos EUA que há 25 anos garante acesso isento de impostos a produtos africanos. 

O objetivo principal da Agoa é ajudar na industrialização do continente, criar empregos e reduzir a pobreza em diversos países.

Resultados e Incertezas

Embora o impacto geral da Agoa seja debatido, é inegável que ela gerou centenas de milhares de empregos, especialmente no setor têxtil. Porém, com a nova administração de Donald Trump, a situação se tornou incerta. Embora o presidente não tenha mencionado diretamente a Agoa, suas tarifas recentes lançaram dúvidas sobre o futuro do acordo.

Conflito entre Tarifas e Preferências Comerciais

A situação é confusa: de um lado, as preferências tarifárias da Agoa; do outro, as tarifas impostas por Trump, que variam de 10% (Quênia, Etiópia e Gana) a 50% (Lesoto). O que prevalecerá?

A África do Sul, que exporta metais e automóveis para os EUA, acredita que essa mudança representa o fim da Agoa. Em uma declaração conjunta, seus ministros das Relações Exteriores e Comércio afirmaram que "as tarifas recíprocas anulam efetivamente as preferências que os países da África Subsaariana desfrutam sob a Agoa".

A Perspectiva do Quênia sobre as Tarifas de Trump

Opinião do Secretário Principal de Relações Exteriores

O Secretário Principal de Relações Exteriores do Quênia, Korir Sing'oei, expressou uma visão clara sobre as novas tarifas impostas pelo presidente Trump. Ele afirmou:

"É nossa opinião ponderada que, até que a lei caduque no final de setembro de 2025 ou seja revogada pelo Congresso, as novas tarifas não serão imediatamente aplicáveis."

Desafios e Oportunidades para o Quênia

O Quênia, que exporta roupas para os EUA, enfrenta a situação com coragem. Embora outros exportadores têxteis, como Vietnã e Sri Lanka, tenham sido mais afetados, o Quênia ainda mantém uma vantagem competitiva.

Impacto das Tarifas na Agoa

Independentemente do que acontecer com a Agoa no curto prazo, as tarifas de Trump parecem ter encerrado as esperanças de renovação da legislação. A Agoa, que remonta à era Clinton, deveria ser renovada ainda este ano. Desde 2000, países africanos têm acesso livre de impostos ao mercado dos EUA para diversos produtos.

Condições de Acesso

O acesso estava vinculado a condições como políticas de livre mercado, direitos trabalhistas e humanos e pluralismo político. No ano passado, trinta e dois países da África subsaariana eram elegíveis.

Desafios Futuros sem a Agoa

Um futuro sem a Agoa representa grandes desafios para Lesoto e outros países. Mukhisa Kituyi, ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, alerta que uma tarifa de 50% seria devastadora para a indústria de Agoa em Lesoto.

Impacto Econômico

Um estudo do Banco Mundial em 2018 previu que a perda dos privilégios da Agoa poderia reduzir o PIB de Lesoto em 1% em dois anos, resultando em um impacto dramático no bem-estar da população.

Considerações 

Apesar dos desafios atuais e do clima econômico difícil, Kituyi acredita que países como o Quênia podem tentar manter seu espaço no mercado americano através de negociações entre exportadores e importadores para absorver os novos impostos sem aumentar muito os preços ao consumidor.

Desafios Atuais nas Negociações

Atualmente, ele observa que tais acordos estão "reféns dos desejos do grupo político dominante na América".

Críticas às Novas Tarifas

Michelle Gavin, pesquisadora sênior do Conselho de Relações Exteriores, critica a forma como as novas tarifas foram calculadas, afirmando que "não faz sentido algum" para economistas. Segundo ela, é difícil perceber uma "estratégia ou intenção clara" do governo Trump.

Perda de Influência Americana na África

Gavin alerta que as decisões do governo só agravarão a perda de influência dos EUA na África. A China, já maior parceira comercial do continente, pode se beneficiar ainda mais. Ela descreve a situação como uma "retirada" e uma "ignorância" em relação a uma região crucial do mundo.

Efeitos da Redução da Assistência Americana

Após cortes severos na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e o cancelamento de assistência humanitária e médica vital, analistas afirmam que os EUA estão "destruindo seus próprios instrumentos de influência".

Agoa: Uma Ferramenta de Poder Brando

Historicamente, a Agoa tem sido considerada uma ferramenta importante do poder brando dos EUA para combater a influência crescente da China e da Rússia na África. O Dr. Kituyi vê esperança no apoio bipartidário que existiu no passado.

Futuro Incerto da Agoa

Um projeto de lei para renovar a Agoa até 2041 foi apresentado pelo senador Chris Coons há mais de um ano, mas pode não avançar no atual Congresso. Gavin acredita que a Agoa não é uma prioridade, dada a agitação global provocada pelas mudanças políticas drásticas de Trump.

Desafios Comerciais Futuros para a África

Com as tarifas atuais gerando caos global, as necessidades específicas da África podem não ser prioridade para outros países. Se a Agoa se extinguir, o continente terá que olhar internamente para cumprir promessas de criar uma área continental de livre comércio e buscar novos parceiros comerciais ou expandir mercados existentes.

A Influência de Dr. Kituyi nas Negociações Comerciais

Ajustes Necessários para Benefícios Compartilhados

Dr. Kituyi, envolvido em negociações comerciais como a Agoa, testemunhou o esforço necessário para "ajustar esses processos", visando criar um "benefício compartilhado" a partir de negociações baseadas em regras estáveis e previsíveis.

O fundador e diretor administrativo da Afri-Expo África 

Comércio Bilateral sob a Agoa

Em 2023, o comércio bilateral totalizou US$ 47,5 bilhões, com os EUA exportando US$ 18,2 bilhões e importando US$ 29,3 bilhões. África do Sul e Nigéria dominaram o comércio sob a lei, mas Lesoto destacou-se como um exportador significativo de roupas.

O que será das empresas africanas que sobrevivem com a importação. depois das tarifas de Trump..